segunda-feira, 11 de junho de 2007

vacinação Contra a Violência

Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá, conta como a capital da Colômbia se transformou num exemplo para a América Latina
Com taxa de 80 homicídios por 100 mil habitantes, em 1993, Bogotá, capital da Colômbia, era considerada uma das cidades mais violentas do mundo. Em apenas dez anos, esse quadro foi totalmente revertido. O índice de homicídios passou, em 2003, para 23 por 100 mil habitantes, uma queda de 71%. No mesmo período, as mortes por trânsito diminuíram de 1.400 por 100 mil habitantes para 630. Além de se tornar um lugar mais seguro para viver, a cidade ainda apresentou melhorias no transporte público e nas áreas de educação, saúde e cultura. As pessoas voltaram a ocupar os espaços públicos, como praças e parques, aprenderam a economizar água e entenderam que o dinheiro pago em impostos deve ser revertido em serviços para o cidadão.
As iniciativas capazes de transformar Bogotá num exemplo para a América Latina - e que inspiraram o Movimento Nossa São Paulo: Outra Cidade - foram apresentadas no dia 25 de maio, em São Paulo, por Antanas Mockus, político e filósofo, que governou Bogotá de 1995 a 1997 e de 2001 a 2003.
"Para mudar uma cidade, o governo não deve apostar apenas no uso das leis e em seus mecanismos de aplicação. As grandes transformações acontecem somente quando a cultura e a consciência dos cidadãos são influenciadas de maneira positiva. Chamo isso de cultura cidadã", afirma Mockus.
Com esse pensamento, diversas iniciativas foram realizadas em Bogotá, entre elas as ações profiláticas contra a violência que contribuíram para a expressiva queda da taxa de homicídios na cidade. Em seu governo, Mockus restringiu o comércio de bebidas alcoólicas, com a aplicação da Lei Cenoura. "Proibi a venda de qualquer bebida alcoólica em Bogotá depois da 1h00. Dizia para os moradores que, caso os homicídios não diminuíssem, só seria permitido tomar suco de cenoura na cidade", conta Mockus.
Outra ação significativa foi o treinamento de 8.000 policiais de Bogotá. Esses profissionais passaram por programas educacionais e foram orientados a respeitar os direitos humanos, a valorizar a vida e a garantir a segurança da cidade, sem usar de violência. "Transformamos nossos policiais em formadores de cidadãos e mostramos que a função da polícia não é fazer justiça."
Para Mockus, casos de agressão e brutalidade freqüentes em Bogotá eram resultado de um ciclo de violência sofrido pela população durante anos. Para reverter o quadro, Mockus contou com centenas de psiquiatras e grupos voluntários que deram atendimento aos cidadãos. As pessoas eram convidadas a falar dos momentos na vida em que foram maltratadas e a participar de atividades para colocar a raiva para fora. Os casos mais graves foram direcionados para os centros de tratamento de saúde. Essa campanha ficou conhecida como "Vacinação contra a Violência".
Além disso, as prisões de Bogotá foram reformadas e o Ministério Público ganhou maior poder de investigação, medidas que também contribuíram para a redução da criminalidade na cidade.
Mímicos no trânsito Uma das imagens mais emblemáticas das ações que transformaram Bogotá foi a presença de mímicos nas ruas da cidade. Durante um certo período, esses artistas receberam a responsabilidade de orientar a população sobre os sinais de trânsito. Dessa forma, a Polícia de Trânsito Local, que era vista pelos cidadãos como um dos setores mais corruptos da Colômbia, foi substituída de uma forma divertida e educativa. Para reduzir os acidentes de trânsito, a Agência Nacional de Controle de Rodovias fez uma campanha de alerta à população, colocando sinais em forma de cruz em 1.500 pontos da cidade nos quais houve atropelamento de pedestres nos últimos cinco anos. A sinalização era acompanhada pela imagem de uma mão com o polegar para baixo e da frase "O que está acontecendo conosco?"
As ações aplicadas em Bogotá foram desenvolvidas a partir de um enfoque teórico sobre lei, moral e cultura, as quais, segundo Mockus, são produtos históricos que dão aos seres humanos a capacidade de governo. Para ele, a cultura sedimenta aprendizados adquiridos com a experiência dos anos e a moral orienta as ações do ser humano, enquanto a lei tem a função de regular comportamentos básicos, para facilitar o convívio e a coexistência de culturas e morais diferentes.
Para saber mais sobre essa experiência, visite os sites Visionários por Colômbia e Bogotá,Cómo Vamos?

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